sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Don Ross - Afraid to Dance


Don Ross é um guitarrista (violonista especializado em violão com cordas de aço) cultuado nos Estados Unidos. Sua criatividade, e a complexidade das execuções de suas músicas são referência para aqueles que gostam desse instrumento , o violão , tão rico em timbragens e possibilidades.

Tentei executar uma de suas peças mais significativas, chamada AFRAID TO DANCE, mas como logo percebi, a execução ao vivo dessa peça é realmente muito difícil. Tudo interfere: a densidade das cordas do violão, os efeitos (compressão, equalização e reverb) e é claro, o swing único que a música oferece.

Espero que se divirtam

Andy Mckee


ANDY MCKEE:
um gênio causa febre viral


Ultimamente tenho me deparado com um número grande de pessoas que assistem a um pequeno vídeo no Youtube e ficam chocadas. É um vídeo simples, com duração aproximada de três minutos, onde um jovem músico executa um violão de uma forma avassaladora, usando inclusive usando o corpo do instrumento como percussão. Estou falando de Andy Mckee, um violonista. Na verdade, com o perdão da expressão, um gênio. Esse vídeo (a música Drifting) já tem dois milhões e seiscentos mil acessos em apenas três meses no ar, e na contabilidade geral de cópias, outras músicas e afins, entre todos os vídeos que disponibilizou no Youtube Mckee alcançou a inédita marca de quase 5 milhões de acessos nesse mesmo tempo. É um fenômeno que se converteu em febre viral pelo mundo todo.


Confira o vídeo:





Como tudo na Internet, nem só de elogios vive esse novo fenômeno. Tenho ouvido pessoas - das mais diversas formações e filosofias - criticarem esse músico, assim como a sua performance, suas músicas e essa "febre" que tem se expandido exponencialmente pela REDE.

O teor principal da maioria dessas críticas é que "a música é simples", ou "a harmonia é pobre", ou mesmo "não existe vantagem em ficar batendo no violão". Tem ainda os "entendidos", os críticos que se julgam técnicos: "ele não é rápido o suficiente", "a música é sempre meio lenta", "tem violonistas melhores", "eu consegui tocar a música dele, então ele não deve ser tão bom assim...", "ele não vendeu quase nenhum CD" e BLA, BLA, BLA, BLA..

Pois tenho minha opinião a respeito, e gostaria de compartilha-la com vocês, que se deram ao trabalho de ler esse POST.





MÚSICA NÃO É ESPORTE


Fico triste em ver o tamanho do preconceito, da ignorância, da arrogância e especialmente da LIMITAÇÃO que faz uma pessoa achar que música é esporte.

Ele não toca por "velocidade", ou por "técnica", nem mesmo faz músicas para competir em alguma Olimpíada para ver se é melhor ou maior. Ele não conta o número de notas, ou acordes para ver se é melhor ou maior.Porque em música não tem melhor ou maior.

Se número de acordes ou harmonia complexa fosse prerrogativa de boa ou má música, não teríamos BBKing, Clapton, nem mesmo Noturno de Choppin. Não teríamos, Beatles, nem boa parte das pérolas mais emocionantes e bonitas da música mundial. Falo desde Noel Rosa até Egberto Gismonti (já ouviram "Água e Vinho"?). Falo desde Beethoven (o que é "Sonata ao Luar"?) até Ennio Morricone (por que Pat Metheny tocaria o tema de Cinema Paradiso?). Não teríamos John Cage, ou mesmo Marisa Monte. Miles Davis e a maioria dos standards de jazz.



Se o número de acordes, notas e velocidade fossem os critérios para se compreender e separar a boa música da má, seríamos SURDOS às interpretação, à dinâmica, à emoção e não entenderíamos o que significa ARTE. Seria o mundo dos DJs e dos computadores quantizados, que aliás, me parece um mundo próximo das pessoas que fazem esse tipo de crítica. Deixo claro que não tenho nada contra DJs. Mas não são músicos (embora muitos sejam, sim, artistas. Mas isso é assunto para outra ocasião...), ou pelo menos, não são enquanto "tocam" vitrolas.

Se venda de CDs é critério de boa música, a venda de qualquer obra de um artista também é. Nesse caso, Van Gogh é um idiota incompetente, pois nunca vendeu um só quadro em vida. E como ele, milhares.De artistas.

Não vou nem me dar ao trabalho de me estender mais sobre o assunto. Cada qual tem sua opinião..pois a ARTE não é feita disso? De emoções individuais, de catarses, de polêmicas, de transtornos, de dúvidas, de questionamentos?Por isso é ARTE. Não tem melhor. Não tem pior. Não tem linha de chegada ou recorde de tempo quebrado. Tem diversidade. E por isso, nasceu para não ter preconceito. Como eu disse, arte não é esporte.






DICAS - O ESTILO MCKEE
Demorei quase um dia inteiro para entender a técnica utilizada, e mais outro para reunir algumas informações que podem ajudar os músicos e violonistas. Façam bom uso das dicas!


1) A sonoridade provém de uma reunião de fatores, onde nesse caso, o tipo de corda, a densidade e a ação do braço em relação às cordas são determinantes.
2) O timbre sempre será melhor com um violão de aço, preferencialmente tipo FOLK, com boa madeira. Ele usa um de luthier, além de Andrew, mas consegue-se resultados excepcionais com um Martin e até mesmo com um Takamine. Para conseguir bom som com modelos inferiores, deve-se cuidar de outros fatores, como as cordas, microfonação e até mesmo efeitos (prioritariamente compressão).
3) Em relação as cordas, segundo Mckee, o melhor é optar por cordas de GUITARRA, pelo brilhos, sustain e suavidade. Ele usa Medium gauge strings (.056-.013) Dean Markley Alchemy Gold Bronze. A densidade varia de música para música e da forma como cada um se adapta à corda e ao estilo... mas densidades 0.12 teriam uma definição melhor, sem perder a maciez no tocar.
4) O ajuste entre braço e cordas é fundamental, especialmente para Driftin: as cordas devem estar paralelas ao braço. NÃO FICOU CLARO PARA MIM a relação de altura das cordas - para os TAPS é melhor que elas estejam mais distantes ou mais coladas ao braço?
5) Importante na execução é sempre procurar tocar relaxado e com suavidade, para melhorar a velocidade e a limpeza dos sons.

6) Cada música tem uma afinação específica. Ele não manté a mesma afinação para todas as músicas... Sem a afinação certa, o trabalho e a sonoridade serão mais difíceis.
7)LISTA COMPLETA DAS AFINAÇÕES:
7-14 - BF#C#F#BF#
Africa - DGDGAD capo 2nd
All Laid Back and Stuff - CGDGAD
Art of Motion - F#AC#G#BE
Building A Memory - GABCDG CGDGAD (harpguitar)
Common Ground - DADGBE
Dreamcatcher - DADF#AE
Drifting - DADGAD
For My Father - ECDGAD capo 3rd
The Friend I Never Met - EGBCDG EADGBE (harpguitar)
Heather's Song - BEADF#B
Into the Ocean - GABCDG EADGBE (harpguitar)
Keys to the Hovercar - ECDGAD capo 3rd
Nocturne - CGEbFBbD Ouray - CGDGBE
Practice is Perfect - DAEFAE
Rylynn - ECDGAD partial capo 5th fret, strings 6-3
Samus' Stardrive - CGEbFBbD
Theme From Schindler's List - GABbCDG EADGBE
Shanghai - EBDGBD partial capo 2nd fret, strings 6-2
She - BGDGAD capo 5th
A Sphere - C#G#C#G#A#F
When She Cries - CGDGBC
I use Medium gauge strings (.056-.013) Dean Markley Alchemy Gold Bronze.
There ya have it! Andy Mckee
ANDY MACKEE e seu HARPGUITAR




Cinema Paradiso e Fábio Cardia


PARAISO
DE
CINEMA



Poucos filmes me encantaram tanto quanto CINEMA PARADISO, de 1988. Oscar de melhor filme estrangeiro em 1990, ganhou também o Globo de Ouro e mais uma infinidade de prêmios. Mas o que chama a atenção é o fato de ser uma obra que mexe fundo com a alma de pessoas sensíveis e cinéfilos. Meu filme preferido. Acredito ser obrigatório na cinemateca básica de qualquer amante de cinema, pois no meu caso, mudou minha vida, minha visão de amor, de amizade, de mundo e em especial, de fantasia.





SINOPSE: Nos anos que antecederam a chegada da televisão (logo depois do final da Segunda Guerra Mundial), em uma pequena cidade da Sicília o garoto Toto (Salvatore Cascio) ficou hipnotizado pelo cinema local e procurou travar amizade com Alfredo (Philippe Noiret), o projecionista que se irritava com certa facilidade, mas parelamente tinha um enorme coração. Todos estes acontecimentos chegam em forma de lembrança, quando agora Toto (Jacques Perrin) cresceu e se tornou um cineasta de sucesso, que recorda-se da sua infância quando recebe a notícia de que Alfredo tinha falecido.Com um ambiente único e bem filmado, mostrando-nos nas expressões de cada personagem seus mais fortes sentimentos, Cinema Paradiso é uma ode à vida. O filme conta que a vida somente tem um sentido se temos alguma paixão e amizade para compartilhá-la, pois mesmo tendo muitos amores em sua vida, Toto nunca mais esqueceu de seu velho amigo e do Paradiso, que foi demolido para a construção de um estacionamento (essa é sem dúvida a cena mais emocionante do filme). Usando de palavras ditas pelo próprio personagem do filme, eu o descrevo como uma experiência “bela, mas triste”, pois todos nós, amantes do cinema, temos um pouco do Toto em nossos interiores.



Ficha Técnica
Título Original: Nuovo Cinema Paradiso
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 123 minutos
Ano de Lançamento (Itália): 1988
Direção: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Giuseppe Tornatore
Produção: Mino Barbera, Franco Cristaldi e Giovana Romagnoli
Música: Andrea Morricone e Ennio Morricone
Direção de Fotografia: Blasco Giurato
Desenho de Produção: Andrea Crisanti
Figurino: Beatrice Bordone
Edição: Mario Morra

Por todo esse amor que tenho pelo filme e em especial pela música dos Morricone (Andrea e Ennio) resolvi fazer um arranjo para homenagear a trilha sonora e o filme, que tantos momentos bonitos e marcantes me proporcionaram. Espero que gostem e se emocionem, pois fiz com muita paixão.



BARYSHNIKOV e ISADORA DUNCAN


BARYSHNIKOV e ISADORA DUNCAN:
UM SONHO QUE DANÇA



Parece ontem que vi uma platéia paulista silenciar extasiada enquanto um Mikhail Baryshnikov dançava ao som de seu próprio coração. Com microfones presos ao seu peito, o Deus flutuava cada vez mais vigoroso, à medida que o som de seus batimentos acelerava continuamente. Enquanto ouvíamos seu coração disparar, de olhos arregalados a respiração parava, sem acreditar no que víamos, na beleza daquela arte lapidada, na experiência de um bailarino perfeito, nascido para a dança. Lembrei de Isadora Duncan, respondendo a uma pergunta aparentemente inocente sobre seu começo de carreira:

-Quando você começou a dançar, Isadora?

-Acho que comecei a dançar no ventre de minha mãe – respondeu a diva sem nem ao menos pensar. Não havia o que pensar.
Hoje, através da medicina, conseguimos ouvir os sons do coração graças à tecnologia dos equipamentos. Nos exames de pré-natal, ouvimos os batimentos de nossos filhos ainda no útero, tão claramente como ouvimos os nossos próprios corações em estetoscópios. Mas um bebê, no útero, fica em contato permanente com o som do coração da mãe. Os ritmos, as evoluções, a força e a delicadeza. O coração.

Ouvir os ritmos e pulsos do corpo não é algo novo para a humanidade: não é exagero dizer que a dança existe desde os primórdios da humanidade.

No início, talvez, como simples manifestação rítmica motivada por impulsos eróticos, religiosos, fúnebres, bélicos, rituais voltados à fertilidade, colheita, caça ou guerra. A excitação de um corpo recém descoberto, capaz de fazer brotar sons como o bater das palmas das mãos, o bater de pés, o estalar dos dedos, o bater de taquaras e madeiras no chão e nas pedras impulsionam esse corpo para a dança.


Já na Grécia clássica, os ritmos e pulsos do corpo amadureceram e ganharam forma de poesia. O poeta Simonilde assim escreveu: “A dança é uma poesia muda”. A poesia muda ganha novos contornos, ao som de flautas, harpas, cantos e vozes afinadas, trompas e outra infinidade de instrumentos musicais. Ela aparece em mitos, lendas, cerimônias, literatura, e passa a ser matéria obrigatória na formação do cidadão. Por tudo isso, na mitologia grega, uma musa – representante de seres celestiais que inspiravam as artes e as ciências – passou a representar a dança. Assim surgiu Terpsícore, musa da dança (e do canto), chamada carinhosamente “a bailarina”, representada com a lira e o plectro. Mas nem só de poesia e beleza lírica (da lira de Terpsícore) vivia a dança na Grécia. A Ilíada e a Odisséia de Homero nos trazem relatos das danças dos guerreiros durante a famosa guerra de Tróia – batendo os pés no chão, as lanças nos escudos e gritando, para animar as tropas -, além de danças matrimoniais, danças agrícolas ( para fertilização e colheita ) , danças funerárias ( em homenagem aos mortos ) e uma especial dança circular de cortejo e sedução. Além disso, também havia a dança com finalidade dramática, praticada no teatro clássico grego.
Depois desse período, vieram o Império Romano e os povos denominados bárbaros. Com a Idade Média, a Igreja proibiu a dança, e os bailados, como espírito de arte e beleza, adormeceram. Mas, assim como na natureza, tudo que morre, morre para renascer mais forte, para renovar um ciclo, para renascer novo e continuar seu caminho. Chegamos ao Renascimento.

Renascimento. Itália. A dança renasceu numa Itália renascentista, onde o culto aos valores da Antiguidade e as idéias humanistas passaram a expressar um conceito de beleza em que o corpo e espírito devem formar um todo harmonioso. Com isso, e com as cortes fortalecidas veio a surgir aquele que pode ser considerado o primeiro Balé (ou posteriormente chamado Ballet ), um triunfo concebido, musicado e dirigido por Bergonzio di Botta em 1459, para comemorar o casamento do Duque de Milão com Isabella de Aragão. A dança ganhava os palcos e o status definitivo de arte nobre e poderia, a partir dali, crescer e se desenvolver para se tornar o que representa hoje.
Da Itália renascentista, a infância para uma Europa sedenta por novidades e aberta às artes. Ainda foi longo o caminho até a França de Luís XIV, o “Rei Sol”, que em 1661 fundou a Academie Royale de la Danse, a primeira academia de balé do mundo, dando origem definitivamente ao modelo ocidental de balé. Interessante notar que todos os treze mestres, membros da academia serviam na corte do “Rei Sol” e eram mestres em Dança e Música. Não é por acaso que alguns anos depois, em 1669, foi fundada a Academie Royale de Musique, que mantinha uma escola de dança, semente da futura Ópera de Paris. Dança e música semeadas juntas. Ritmo, pulso, movimento e corpo, se reencontrando em prol da arte.

Dessa França absolutista de Luis XIV, o “Rei Sol”, e seu desenvolvimento posterior, surge praticamente toda a terminologia e tradição do balé ocidental: as expressões em francês como glissé, pas battus, entrechats, promenade, pas-de-deux, cabrioles, etc. Mais para frente, ainda na França, no século XVIII surgem obras coreográficas cujo desenrolar se baseia em movimentos dramáticos (estórias), representando as relações entre os personagens e a ação dramática: Ballet d’action. Essa maneira de conceber a dança perdurou muito tempo, se desenvolvendo e ganhando o nome de período Romântico da dança, com sílfides, fadas, pássaros, criaturas aladas voando pelos palcos, roupas brancas (daí o nome “balés brancos”) e a fantasia de um universo mágico em cena. O sonho ganhava vida nos palcos de dança, e a leveza das bailarinas originou a sapatilha de ponta, onde o corpo deveria ser o mais leve, harmonioso e delicado possível. E assim foi, século XIX adentro culminando com La Sylphide e Coppélia e Giselle.

A viagem do coração nos levou adiante até a chamada Escola Russa. Os russos injetaram um novo vigor no balé a partir de meados do século XIX, e nos deram o Bolshoi. Interessante descobrir que foi um francês, Marius Petipa, um dos principais responsáveis pelo florescimento do Balé Russo. Criou Dom Quixote, Barba Azul, As Estações, além de recriar obras como Giselle. Não satisfeito, ainda instituiu uma parceria com um compositor, Tchaikovsky, deixando como legado dessa parceria O Lago dos Cisnes (junto com Lev Ivanov), Quebra-Nozes e A Bela Adormecida. Não era nem o começo. Ainda veríamos os russos nos presentear com Fokine (coreógrafo) e Diaghilev (empresario), a genial música de Igor Stravinsky e de Claude Debussy, e dois fenômenos chamados Vaslav Nijinsky e Anna Pavlova. Dessa época, nasceram obras como Pássaro de Fogo, L’Aprés-Midi d’un Faune, A Sagração da Primavera, entre dezenas de outras obras-primas.


Será que Isadora Duncan imaginava o tamanho da imensidão do “ventre de sua mãe” quando respondeu sem pensar àquela pergunta? Pois foi no ventre da Mãe Natureza, com os corações, pulsos e ritmos dos bailarinos, músicos e artistas que haviam caminhado até o momento de seu nascimento que ela pode aprender a ser Isadora Duncan, “a libertária”. Pés descalços, roupas esvoaçantes, dotada de um helenismo clássico, de um romantismo poético, mas com uma dose exata de modernismo e inquietação, quase uma sacerdotisa em busca de uma dança repleta de beleza e liberdade.

Beleza e liberdade. A partir de 1926 o mundo passou a conhecer outro significado para essas palavras: Martha Graham começou a coreografar. A mãe, matriarca, da dança moderna. Até os seus 90 anos de idade, ainda coreografando, Martha vislumbrou o mundo artístico que ajudou a criar: viu o surgimento de Merce Cunningham, Paul Taylor (ex-solistas de sua companhia), Maurice Béjart, presenciou a sagração do American Ballet de Balanchine e viu Mikhail Baryshnikov se tornar um coração.

Ainda escuto o coração de Mikhail Baryshnikov. E ainda hoje, continuo a buscar o seu significado.

Acredito que é por isso que eu amo a dança. A dança é o coração.
Dança é o coração biológico, aquele que acelera, que pulsa, que faz o sangue fervilhar, o corpo estremecer e sonhar.
Dança é o coração simbólico, aquele que aperta, que sofre, que luta e tem alegrias, que tem medo, dúvidas e vontade, que faz a alma sonhar.

Por isso, como músico e compositor, através da dança, hoje eu sei dizer o que é a música, meu coração: música é o meu sonho dançando.

E você? Em que Dança mora o seu coração?




Quando Borat encontra Dom Quixote


BORAT: Dom Quixote moderno?
Sobre Borat, Cervantes, Drummond e Portinari


Não posso estar louco.
Sei o que vi. Compreendo o que vi.

Originalmente, fui ao cinema assistir BORAT
 - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América. O longa, rodado com US$ 18 milhões, estreou em 837 salas nos Estados Unidos, arrecadando US$ 26,4 milhões em seu 1º fim de semana. Não que isso seja alguma referência. Para mim, o que me chamou realmente a atenção foi saber que a polícia americana foi chamada 91 vezes durante a produção de Borat, devido a cenas rodadas por Sacha Baron Cohen (o Borat, do título). Em Nova York um mandato de prisão chegou a ser enviado ao ator.


Antes de assistir ao filme, porém, ouvi e li muitas críticas a respeito: o filme era realmente polêmico, do tipo "ame-o ou deixe-o". Parecia ser amar ou odiar mesmo. Pessoas inflamadas me falavam sobre a incrível capacidade de fazer rir, ou sobre o inacreditável lado grotesco, por vezes escatológico de Borat. Eu não podia compreender como uma mísera comédia americana podia gerar tanta mídia espontânea, tanta discussão, tanta repercussão. Afinal, diversão serve apenas para divertir.(citando o intelectual Caetano Veloso...) Ou não. Na dúvida, fui ao cinema.

Primeiramente, para que não haja dúvidas sobre minha posição, devo dizer que quase morri de tanto rir. Ri daquelas risadas de perder o fôlego, da barriga doer. Ri do humor que gosto - sarcástico, humor-negro, ácido. Ri das desgraças alheias, do constrangimento, da hipocrisia.
Raramente tenho hoje em dia a oportunidade de exercitar esse riso tão politicamente incorreto. E tão delicioso, pois a desgraça alheia não permite que lembremos de nossas próprias mazelas, ou melhor, permite que vejamos o quanto somos de fato felizes por não passarmos por aqueles constrangimentos naquele momento. Mas isso não vem ao caso aqui.

O que gostaria de deixar registrado é que durante o filme uma idéia me ocorreu. 

Não 
posso estar louco.
Sei o que vi. Compreendo o que vi.

Vi uma jornada de um homem de figura bizarra, que beirava a insanidade pela total incompreensão da realidade (??) a sua volta. Vi essa figura acompanhada por um escudeiro (seu cameraman) baixinho e gordo, um homem nojento, mas que deixava a mostra suas raízes mais humildes, e que tentava desesperadoramente trazer Borat à realidade. Vi esses dois empreenderem uma busca por uma mulher de hábitos bem duvidosos do ponto de vista moral conservador, acreditando piamente que ela fosse uma donzela virgem e pura. Vi essa jornada atravessar terras desconhecidas, usando um carro caindo aos pedaços, com um urso e uma galinha a tiracolo, expondo a hipocrisia, a mentira, e a ética distorcida de um sistema de valores, ridicularizando o modo de ser do homem americano (só eles?) moderno. 
Não posso estar louco.
Sei o que vi.


Vi Dom Quixote de la Mancha e seu escudeiro Sancho Pança, atravessando a Espanha com Rocinante, o cavalo chucro, em busca de uma rameira chamada Dulcinéia.


Dom Quixote
 de La Mancha, é um livro escrito por Miguel de Cervantes y Saayedra (1547-1616). É composto por 126 capítulos de sabedoria, amizade, enternecimento, encantamentos, loucuras e divertimento, divididos em duas partes: a primeira surgida em 1605 e a outra em 1615. É a grande criação de Cervantes.
O personagem principal da obra é um pequeno fidalgo castelhano que perdeu a razão pela leitura assídua dos romances de cavalaria e pretende imitar seus heróis prediletos. Envolve-se em uma série de aventuras, mas suas fantasias são sempre desmentidas pela dura realidade. O efeito é altamente humorístico. A história é apresentada sob a forma de novela realista.
Dom Quixote e Sancho Pança representam valores distintos, embora sejam participantes do mesmo mundo.
É importante compreender a visão irônica que o romancista tem do mundo moderno: o fundo de alegria que está por detrás da visão melancólica e a busca do absoluto.
São mundos completamente diferentes. O fiel escudeiro de Dom Quixote é definido por Cervantes como "homem de bem mas de pouco sal na moleirinha". É o representante do bom senso e é para o mundo real aquilo que Dom Quixote é para o mundo ideal.
No entanto, os contemporâneos da obra não a levaram tão a sério como as gerações posteriores. Passou a ser vista como uma prosa épica de escárnio, em que "o ar sério e grave" da ironia do autor começou a ser bastante apreciado.
O herói grotesco de um dos livros mais cômicos tornou-se no trágico herói da tristeza. Contudo, apesar de alguma distorção, a novela de Cervantes começou então a revelar a sua profundidade. Na história da novela moderna, o papel de Dom Quixote é reconhecido como seminal. Desde o século XVII que se têm realizado peças de teatro, óperas, composições musicais e bailados baseados no Dom Quixote. No século XX, o cinema, a televisão e os cartoons inspiraram-se igualmente nesta obra. Dom Quixote inspirou ainda artistas como Goya e Picasso. Várias interpretações foram dadas à obra. No século XVII, considerou-se que o romance continha em si pouco mais que o tom de bom humor e de diversão, com Dom Quixote e Sancho Pança a encarnarem respectivamente o grotesco e o pícaro.

O GROTESCO e o PÍCARO. ILUSÃO e REALIDADE. O uso do confronto para criticar, para questionar, para incomodar.

Para mim, isso é mais que humor. Beira realmente arte, pelo menos em sua eficiência.Pois como não olhar BORAT à luz de obras como as de Carlos Drummond de Andrade e Cândido Portinari?
A pesquisadora Alice Áurea Penteado Martha, da Universidade Estadual de Maringá, nos propõe uma interessante viagem ao analisar uma obra única, que uso também como base para analogias com BORAT:

Em 1956, Candido Portinari pinta uma série de vinte e uma gravuras, focalizando duas personagens da literatura universal: D.Quixote e Sancho Pança. Em 1972, por ocasião da comemoração de seus 70 anos, Carlos Drummond de Andrade lança um livreto com 21 poemas, alusivos às gravuras do amigo pintor e publicados no ano seguinte com o título geral Quixote e Sancho, de Portinari, em As impurezas do branco (1973).

Os desenhos a lápis sobre cartão foram feitos em 1956, quando Portinari, atendendo a um pedido da Editora José Olympio, começa a preparar uma série de desenhos para uma provável edição brasileira de D. Quixote e que seria por ele ilustrada. Como o projeto da Editora foi abandonado, somente no início dos anos 70, Drummond cria, para a primeira edição do livro Quixote, os poemas que acompanhariam as criações de Portinari. Além dos poemas, os desenhos são acompanhados por trechos da obra de Cervantes, que serviram de inspiração para os traços do pintor. O livro, publicado em 1973, pela Diagraphis, do Rio de Janeiro, foi relançado em 1998, sob os auspícios da Petrobrás.

Com uma estrutura predominantemente narrativa, o poema elabora a síntese da novela de Cervantes, com o apoio das imagens de Portinari, mas o eu poético, diferentemente do que ocorre com a narrativa, cujo narrador detém o domínio de voz e visão, assume em primeira pessoa as emoções do fidalgo Quixote e de Sancho Pança, seu escudeiro. E é, justamente, esse modo renovador de retomar perspectivas que torna a obra singular.


O primeiro poema, Soneto da loucura, acompanha o cartão denominado D. Quixote de cócoras com idéias delirantes e remete-nos à apresentação da personagem de Cervantes, tomada pelo delírio, causado pelo excesso de leituras de novelas de cavalaria. Nos traços do pintor, o desequilíbrio visível nos olhos enormes, arredondados e desmedidamente abertos; no olhar vidrado de Quixote, que busca imagens no horizonte; no gesto característico das mãos, que auxiliam o olhar perscrutador do fidalgo, sedento de aventuras; o cabelo com aspecto de desgrenhado; o sentimento de desamparo e solidão, perceptível na ausência de qualquer outro elemento no cenário. Quixote está só; ninguém o compreende. No poema de Drummond, a escolha de uma forma convencional de poesia, o soneto, para expor o reconhecimento da própria loucura.

I / Soneto da loucura
A minha casa pobre é rica de quimera
e se vou sem destino a trovejar espantos,
meu nome há de romper as mais nevoentas eras
tal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.
Rola em minha cabeça o tropel de batalhas
jamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.
Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,
o que nele recolho é o olor da glória eterna.
Donzelas a salvar, há milhares na Terra
e eu parto e meu rocim, corisco, espada, grito,
torto endireitando, herói de seda e ferro,
E não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,
na férvida obsessão de que enfim a bendita
Idade de Ouro e Sol baixe lá nas alturas.

Se a comparação entre BORAT e DOM QUIXOTE não for inevitável, é pelo menos curiosa.


Já, no cartão de Portinari, D. Quixote a cavalo com lança e espada, Portinari recupera o riso no espírito do leitor, pelo modo inusitado como é construída a figura. Tanto o pintor quanto o poeta elaboram uma imagem quixotesca do fidalgo espanhol. Portinari acentua o humor da imagem, carregando o traço caricato da personagem, visível na excessiva magreza e em sua postura de combate. Drummond, em O esguio propósito, abandona a primeira pessoa e, o eu poético, focalizando a estranha criatura, endossa o caráter de humor presente na imagem de Portinari. Assim, o emblema do cavaleiro andante, contrito e disposto a respeitar e divulgar os valores do guerreiro medieval, é substituído por metáforas.
III / O esguio propósito
Caniço de pesca
fisgando o ar,
gafanhoto montado
em corcel magriz,
espectro de grilo
cingindo loriga,
fio de linha

à brisa torcido,
relâmpago
ingênuo

furor
de solitárias horas indormidas
quando o projeto a noite obscura.
Esporeia
o cavalo,
esporeia
o sem-fim.

Novamente somos levados ao aspecto da figura bizarra, magra, patética, e no inevitável fado de humor que carrega.


O poema Um em quatro, que acompanha o cartão D. Quixote e Sancho Pança saindo para suas aventuras, a seguir, estampa as conquistas da poesia concreta, na medida em apresenta inovações em vários campos: no sintático, a ruptura total com a sintaxe tradicional; no léxico, os neologismos; no fonético, a repetição sonora é a grande chave. Mas o mais significativo é a abolição quase total do verso, no campo topográfico, com o uso dos espaços em branco para intensificar o significado. Na construção do poema, o verbal e o visual concorrem em pé de igualdade na luta pela significação.

As letras que iniciam e finalizam o alfabeto, opostas, portanto (A e Z), são dispostas no texto de modo a representar as personagens Quixote e Sancho em suas “afinidades díspares”; as minúsculas, logo abaixo, na mesma posição, referem-se às montarias de cada um deles, o cavalo e o asno. As letras se juntam, primeiramente, para formar o par homem-animal, A& b; Z&y, e, finalmente, os quatro viventes unem-se pela busca dos mesmos ideais: quadrigeminados, um cavaleiro um cavalo um jumento um escudeiro. Pelo trabalho de organização e disposição das letras, o leitor pode visualizar as linhas que compõem a imagem pintada por Portinari. A partir delas e em diálogo com o texto de Cervantes, Drummond expõe sua visão das quatro criaturas, tão diferentes em seus próprios grupos: o fidalgo (A) e o escudeiro (Z); o cavalo (b) e o asno (y). Entretanto, para o eu poético, as diferenças fundem-se em uma semelhança: o mesmo desejo de aventuras e jornadas, unificado anseio.

V / Um em quatro
A Z
b y
A&b Z&y
Ab yZ
ABYZ
quadrigeminados
quadrimembra jornada
quadripartito anelo
quadrivalente busca
unificado anseio
um cavaleiro um cavalo um jumento um
escudeiro

Para quem se chocou com a cena da luta escatológica entre BORAT e seu cameraman, talvez esse olhar amenize as lembranças...(porque lembrar daquela cena tira o sono de qualquer um!)

Saí do cinema esperando o momento de dividir essa idéia maluca: é claro que BORAT é um filme polêmico, que causa amor ou ódio nas pessoas. É claro que BORAT causa enorme repercussão.
Pois os ARQUÉTIPOS não são assim? E nem comecei a falar de Macunaíma...

As referências sobre Carlos Drummond de Andrade e Candido Portinari foram coletadas de:
Alice Áurea Penteado Martha 
Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid, em http://www.ucm.es/info/especulo/numero23/drummond.html

Marina Colasanti


EU SEI, MAS NÃO DEVIA.

Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.





Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma.

Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora.

A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e d
ormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos lev
am na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensa
ndo no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida. 


Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.
[Marina Colasanti, 1937]


BIOGRAFIA

Marina Colasanti (Sant'Anna) nasceu em 26 de setembro de 1937 , em Asmara (Eritréia), Etiópia. Viveu sua infância na Africa (Eritréia, Líbia). Depois seguiu para a Itália, onde morou 11 anos. Chegou ao Brasil em 1948, e sua família se radicou no Rio de Janeiro,onde reside desde então. Possui nacionalidade brasileira e naturalidade italiana. 

Entre 1952 e 1956 estudou pintura com Catarina Baratelle; em 1958 já participava de vários salões de artes plásticas, como o III Salão de Arte Moderna. Nos anos seguintes, atuou como colaboradora de periódicos, apresentadora de televisão e roteirista.
 Ingressou no Jornal do Brasil em 1962, como redatora do Caderno B. Desenvolveu as atividades de: cronista, colunista, ilustradora, sub-editora, Secretária de Texto. Foi também editora do Caderno Infantil do mesmo jornal. Participou do Suplemento do Livro com numerosas resenhas. No mesmo período edita o Segundo Tempo, do Jornal dos Sports. Deixou o JB em 1973. Assinou seções nas revistas: Senhor, Fatos & Fotos, Ele e Ela, Fairplay, Claudia e Jóia. 

Em 1976 ingressou na Editora Abril, na revista Nova da qual já era colaboradora, com a função de Editora de Comportamento.
 De fevereiro a julho de 1986 escreveu crônicas para a revista Manchete.Deixa a Editora Abril em 1992, como Editora Especial, após uma breve permanência na revista Claudia, tendo ganho três Prêmios Abril de Jornalismo. De maio de 1991 a abril de 1993 assinou crônicas semanais no Jornal do Brasil. 

De 1975 até 1982 foi redatora na agência publicitária Estrutural, tendo ganho mais de 20 prêmios nesta área.
 Atuou na televisão como entrevistadora de Sexo Indiscreto - TV Rio Entrevistadora de Olho por Olho - TV Tupi. Na televisão foi editora e apresentadora do noticiário Primeira Mão -TV Rio, 1974; apresentadora e redatora do programa cultural Os Mágicos -TVE, 1976; âncora do programa cinematográfico Sábado Forte -TVE, de 1985 a 1988; e âncora do programa patrocinado pelo Instituto Italiano de Cultura, Imagens da Itália- TVE, de 1992 a 1993. 

Em 1968, foi lançado seu primeiro livro, 
Eu Sozinha; desde então, publicou mais de 30 obras, entre literatura infantil e adulta. Seu primeiro livro de poesia, Cada Bicho seu Capricho, saiu em 1992.

Em 1994 ganhou o Prêm
io Jabuti de Poesia, por Rota de Colisão (1993), e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z Aonde Vai Você?. Suas crônicas estão reunidas em vários livros, dentre os quais Eu Sei, mas não Devia (1992) que recebeu outro prêmio Jabuti, além de Rota de Colisão igualmente premiado. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Dentre outros escreveu E por falar em amorContos de amor rasgadosAqui entre nósIntimidade pública, Eu sozinhaZooilógicoA morada do ser, A nova mulher (que vendeu mais de 100.000 exemplares), Mulher daqui pra frenteO leopardo é um animal delicadoGargantas abertas e os escritos para crianças Uma idéia toda azul Doze reis e a moça do labirinto de vento. Colabora, também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna com quem teve duas filhas: Fabiana e Alessandra. 

Em suas obras, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade.


OBRAS

Eu sozinha (1968)
Nada na Manga - crônicas (1975)
Zoológico - Contos (1975)
A morada do ser - contos (1978)
Uma idéia toda azul - contos de fadas (1979)
A Nova Mulher - coletânea de artigos (1980)
Mulher Daqui Prá Frente - coletânea de artigos (1981)
Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento - contos de fadas (1982)
A menina Arco-Iris - infantil (1984)
E por falar em amor - ensaio (1984)
O Lobo e o Carneiro no Sonho da Menina - infantil (1985)
Uma Estrada junto ao Rio - infantil (1985)
O Verde Brilha no Poço - infantil (1986)
Contos de Amor Rasgados - contos (1986)
O menino que achou uma estrela - infantil (1988)
Um amigo para sempre - infantil (1988)
Aqui entre nós - coletânea de artigos (1988)
Será que tem asas? - infantil (1989)
Ofélia a ovelha - infantil (1989)
A mão na massa - infantil (1990)
Intimidade pública - coletânea de artigos (1990)
Agosto 91, Estávamos em Moscou (1991)
Entre a espada e a rosa - contos de fadas (1992)
Ana Z, Aonde vai você? - juvenil (1993)
Rota de Colisão - poesia (1993)
Um amor sem palavras - infantil (1995)
O homem que não parava de crescer - juvenil (1995)
De Mulheres sobre tudo - citações (1995)
Eu sei mas não devia - (1997)
Gargantas abertas - poesia (1998)
O Leopardo é um animal delicado - contos (1998)
Um espinho de marfim e outras histórias - antologia de contos de fada (1999)
Esse amor de todos nós - coletânea de textos (2000)



Eu sei que é difícil manter o hábito de ler mais. Mas não devia.
Não há nada como uma boa leitura, ainda mais as que nos levam ao crescimento, à reflexão, à poesia da vida.
Carinho do Cardia

ELEKTRON: APENAS PARA LEMBRAR O AM


ELEKTRON: APENAS PARA LEMBRAR O AMOR




As estórias dos heróis são sempre cativantes. Em especial, pela sua motivação. Joseph Campbell chama essa motivação de "O Chamado", ou aquilo que desvia a vida normal de um ser, que muda seu destino, "chamando-o" ou convocando-o para que siga um destino maior, o do hérói. Tradicionalmente, esse "chamado" também acaba por ser responsável pelas motivações que levam um personagem (mito) a seguir pela trilha heróica.


No caso de Batman, foi o assassinato de seus pais. Sua motivação sempre foi a vingança contra os criminosos. Em Matrix, vemos Neo escolher entre a pílula vermelha e a azul, e se libertar da Matrix. Sua motivação é a liberdade. Existem heróis que têm por motivação o cumprimento das leis, como é o caso de Flash, que usa seus poderes para prender criminosos e nunca deixou seu trabalho na polícia. Outros almejam a paz, a harmonia, um mundo melhor, como o mito dos mitos, Superman. E o que falar de tantos heróis que além da justiça, lutam para salvar seus amores de encrencas, de perigos, combatendo os vilões? Cada herói tem uma estória. Cada herói tem uma motivação.


Mas de todos os que conheço, li e estudei, um se destaca pela absoluta entrega ao amor. Não foram o combate ao crime, a justiça, a vingança, as glórias, a fama ou qualquer outro motivo tradicional que o incitaram ao heroísmo. Foi o amor, puro, ingênuo, incondicional à sua esposa.


O Eléktron foi é um personagem que marcou seu aparecimento em 1961 na revista Showcase #34 e que teve Gil Cane como um de seus principais desenhistas. Foi concebido como Ray Palmer, um gênio, físico e professor universitário. Pela mitologia, Palmer se deparou com os restos de uma estrela anã branca, e usou fragmentos do astro para ampliar seus estudos sobre redução da matéria. Seus experimentos fracassaram várias vezes, mas a necessidade e sua crença de que não poderia falhar forçaram-no a fazer experimentos consigo mesmo. Foi quando teve sucesso.


Ray Palmer pode encolher a tamanhos microscópicos e até subatômicos, mantendo a mesma força que tem em tamanho normal. Ele também pode aumentar sua densidade, ficando extremamente pesado. Esta habilidade combinada com o encolhimento é muito útil para desequilibrar ou tombar oponentes. Elekton pode até cavalgar impulsos elétricos´pelas linhas telefônicas.





Mas o que chama mesmo a atenção é o MOTIVO pelo qual resolveu combater o crime e usar seus poderes: Ray Palmer formou-se na faculdade e se casou com Jean Loring, uma promissora advogada. Para ajudá-la em sua carreira e transformá-la numa das mais proeminentes criminalistas do Estado, Palmer decidiu tornar-se herói e entregar os criminosos para sua esposa.

Tornou-se herói por amor. É essa noção que o separa de tantos outros heróis. Sua noção de heroísmo tem as bases cavalheirescas dos antigos e bravos salvadores de princesas.  Com a diferença de que não enfrenta os dragões pela aventura, mas pelo sucesso e felicidade de sua amada.

Tenho ouvido muita besteira e lido muitas coisas idiotas sobre como devemos ser indivíduos plenos, sobre como devemos preservar e manter nossa individualidade para que nossas relações dêem certo. Sobre como devemos permitir que nossos parceiros e parceiras "vivam a vida e aprendam com o sofrimento e as intempéries da vida, pois só assim irão crescer".


Sobre isso, tenho a dizer que não somos pais de nossos parceiros. Cabe a um pai ensinar o filho a se proteger, a ser pleno, completo. Cabe a um pai preparar o filho para o mundo cruel. Por isso a natureza criou a expressão DESMAMAR, por isso na natureza os pais ensinam os filhos a caçar.

Acredito que um parceiro não deve assumir a postura de um pai. Não cabe a mim ensinar minha parceira a "caçar". Cabe a mim proteger e cuidar - com todaos os meus recursos e forças - de minha prole, dos que amo. Acredito que os amores são diferentes, e o que quero para mim e uma parceira é o amor de paixão, dos amantes, dos cúmplices, em que nos tornamos mais heróis a cada dia lutando pela felicidade de nossos amores, de nossa família.

Evidente que não quero que um filho sofra, mas o processo de aprendizado e de "desmamar" é natural e necessário. Porém, estamos sofrendo em nossas relações afetivas amorosas uma síndrome de troca de identidade que faz com que confundamos o zelo e a vontade (e necessidade) de "salvar nossas princesas" com a idéia de proteção exagerada. Não quero "proteger" o meu amor, mas sim quero que ela seja feliz, pois é na felicidade dela que reside a minha. Não existe como eu ser feliz primeiro, e depois fazê-la feliz, pelo simples fato de que só sou feliz quando a pessoa que amo também está. Não é um paradoxo, como muitos alardeam: é a natureza humana. No momento que sou feliz e pleno sem minha parceira, só restará a pergunta: então por que preciso de uma parceira? E nesse momento, passaremos a viver o que estamos presenciando hoje - egoísmo, solidão, isolamento e falta de afeto.

Por nos lembrar do que importa nesses dias, obrigado Ray Palmer.

Um "Elektron" (em inglês The Atom, ou o átomo) pode ser muito grande.