sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

ELEKTRON: APENAS PARA LEMBRAR O AM


ELEKTRON: APENAS PARA LEMBRAR O AMOR




As estórias dos heróis são sempre cativantes. Em especial, pela sua motivação. Joseph Campbell chama essa motivação de "O Chamado", ou aquilo que desvia a vida normal de um ser, que muda seu destino, "chamando-o" ou convocando-o para que siga um destino maior, o do hérói. Tradicionalmente, esse "chamado" também acaba por ser responsável pelas motivações que levam um personagem (mito) a seguir pela trilha heróica.


No caso de Batman, foi o assassinato de seus pais. Sua motivação sempre foi a vingança contra os criminosos. Em Matrix, vemos Neo escolher entre a pílula vermelha e a azul, e se libertar da Matrix. Sua motivação é a liberdade. Existem heróis que têm por motivação o cumprimento das leis, como é o caso de Flash, que usa seus poderes para prender criminosos e nunca deixou seu trabalho na polícia. Outros almejam a paz, a harmonia, um mundo melhor, como o mito dos mitos, Superman. E o que falar de tantos heróis que além da justiça, lutam para salvar seus amores de encrencas, de perigos, combatendo os vilões? Cada herói tem uma estória. Cada herói tem uma motivação.


Mas de todos os que conheço, li e estudei, um se destaca pela absoluta entrega ao amor. Não foram o combate ao crime, a justiça, a vingança, as glórias, a fama ou qualquer outro motivo tradicional que o incitaram ao heroísmo. Foi o amor, puro, ingênuo, incondicional à sua esposa.


O Eléktron foi é um personagem que marcou seu aparecimento em 1961 na revista Showcase #34 e que teve Gil Cane como um de seus principais desenhistas. Foi concebido como Ray Palmer, um gênio, físico e professor universitário. Pela mitologia, Palmer se deparou com os restos de uma estrela anã branca, e usou fragmentos do astro para ampliar seus estudos sobre redução da matéria. Seus experimentos fracassaram várias vezes, mas a necessidade e sua crença de que não poderia falhar forçaram-no a fazer experimentos consigo mesmo. Foi quando teve sucesso.


Ray Palmer pode encolher a tamanhos microscópicos e até subatômicos, mantendo a mesma força que tem em tamanho normal. Ele também pode aumentar sua densidade, ficando extremamente pesado. Esta habilidade combinada com o encolhimento é muito útil para desequilibrar ou tombar oponentes. Elekton pode até cavalgar impulsos elétricos´pelas linhas telefônicas.





Mas o que chama mesmo a atenção é o MOTIVO pelo qual resolveu combater o crime e usar seus poderes: Ray Palmer formou-se na faculdade e se casou com Jean Loring, uma promissora advogada. Para ajudá-la em sua carreira e transformá-la numa das mais proeminentes criminalistas do Estado, Palmer decidiu tornar-se herói e entregar os criminosos para sua esposa.

Tornou-se herói por amor. É essa noção que o separa de tantos outros heróis. Sua noção de heroísmo tem as bases cavalheirescas dos antigos e bravos salvadores de princesas.  Com a diferença de que não enfrenta os dragões pela aventura, mas pelo sucesso e felicidade de sua amada.

Tenho ouvido muita besteira e lido muitas coisas idiotas sobre como devemos ser indivíduos plenos, sobre como devemos preservar e manter nossa individualidade para que nossas relações dêem certo. Sobre como devemos permitir que nossos parceiros e parceiras "vivam a vida e aprendam com o sofrimento e as intempéries da vida, pois só assim irão crescer".


Sobre isso, tenho a dizer que não somos pais de nossos parceiros. Cabe a um pai ensinar o filho a se proteger, a ser pleno, completo. Cabe a um pai preparar o filho para o mundo cruel. Por isso a natureza criou a expressão DESMAMAR, por isso na natureza os pais ensinam os filhos a caçar.

Acredito que um parceiro não deve assumir a postura de um pai. Não cabe a mim ensinar minha parceira a "caçar". Cabe a mim proteger e cuidar - com todaos os meus recursos e forças - de minha prole, dos que amo. Acredito que os amores são diferentes, e o que quero para mim e uma parceira é o amor de paixão, dos amantes, dos cúmplices, em que nos tornamos mais heróis a cada dia lutando pela felicidade de nossos amores, de nossa família.

Evidente que não quero que um filho sofra, mas o processo de aprendizado e de "desmamar" é natural e necessário. Porém, estamos sofrendo em nossas relações afetivas amorosas uma síndrome de troca de identidade que faz com que confundamos o zelo e a vontade (e necessidade) de "salvar nossas princesas" com a idéia de proteção exagerada. Não quero "proteger" o meu amor, mas sim quero que ela seja feliz, pois é na felicidade dela que reside a minha. Não existe como eu ser feliz primeiro, e depois fazê-la feliz, pelo simples fato de que só sou feliz quando a pessoa que amo também está. Não é um paradoxo, como muitos alardeam: é a natureza humana. No momento que sou feliz e pleno sem minha parceira, só restará a pergunta: então por que preciso de uma parceira? E nesse momento, passaremos a viver o que estamos presenciando hoje - egoísmo, solidão, isolamento e falta de afeto.

Por nos lembrar do que importa nesses dias, obrigado Ray Palmer.

Um "Elektron" (em inglês The Atom, ou o átomo) pode ser muito grande.


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